14/09/2011

AND NOW, FOR SOMETHING COMPLETELY DIFFERENT




Em primeiro lugar:

Tenho de pedir desculpa. Foi-me impossível actualizar o blog nestes últimos dias. Chamemos-lhe "problemas técnicos alheios à gerência".

Mas continuando:

Dormi que nem uma pedra - e mesmo assim acordei cansado. A provotnitza chamou-me meia hora antes de Krasnoyarsk, para eu ter tempo de arrumar as malas, ir à casa de banho e pôr-me fresco.

E por falar em "fresco", eis uma novidade bem fresca nesta viagem: traumatizado com os constantes encolheres de ombros e com a dificuldade em quebrar o gelo com os locais, resolvi fazer uma visita ao couchsurfing e combinar uns cafés. É uma técnica que, confesso, já tinha experimento antes. Claro que já usei esta plataforma para "surfar num sofá" - é para isso que serve - mas outras tantas vezes, fiz contactos apenas pelos contactos.

Gosto de me misturar com os locais, de aprender sobre o lugar onde estou, sobre as pessoas que fazem a paisagem humana, os seus hábitos, curiosidades, constrangimentos. E nada melhor que combinar um café - e, na maior parte das vezes, fazer novos amigos - para ir um bocadinho mais fundo.

Mas voltando ao comboio: saí para a manhã gelada e na plataforma esperava-me um russo muito sorridente. Chamava-se Konstantin, foi o único contacto que "deu em alguma coisa" e foi um achado: muito humilde e reservado, mas curioso e bem disposto.

Saímos à procura de pequeno-almoço (estava cheio de fome), e de um lugar onde eu ficar esta noite (estava cheio de sono).

No passeio em busca de um cafézinho, disponibilizei o meu guia para fazermos alguns contactos, mas o meu anfitrião não largava o telefone - e comecei a reparar que estava ligar para alguns números publicitados nos postes de electricidade. Já tinha visto os tais números noutras cidades, mas não sabia o que eram - e não me dei muito ao trabalho. Hoje fiquei a saber.

São apartamentos para alugar. É normal, para os russos, quando viajam. Saem mais baratos que um hotel, são mais caseiros, têm cozinha e condições.



 
















Resumindo e concluindo:
 
A minha breve passagem por Krasnoyarsk começou logo com uma mudança de estratégia - e dei-me bem por causa disso. Ao entrar em contacto com um local, não só tive a oportunidade de fazer imensas perguntas que tinha atravessadas, como fui logo apresentado a uma nova técnica de viajar.

Carregado de um optimismo reforçado, levei logo com um calduço do destino - só para me lembrar que a sorte pode mudar a qualquer hora, quando menos se espera. E quanto.

Depois de tomarmos o pequeno-almoço e combinarmos um preço com o dono de um dos apartamentos publicitados, apanhámos um autocarro para "casa". Já quase a chegar ao destino, o condutor fez uma travagem tão brusca que mandou algumas pessoas ao chão. E não estou a falar de uma quedazinha de "desculpe lá, com licença, está tudo bem, magoou-se". Não. Estou a falar de uma travagem a sério. Eu estava agarrado a um varão e consegui manter-me em pé, apesar da mochila às costas, que ajudou ao desequilíbrio - foi por pouco, mas aguentei-me. Quem não teve tanta sorte foi um casal ao fundo do autocarro, que veio em voo picado na nossa direcção, aterrando de cabeça aos nossos pés e rebentando com uma placa de alumínio ao pé da porta.

Autocarro: parado. Silêncio: absoluto.

Eu e o Konstantin, que estávamos mais próximos das pessoas que tinham voado, ajudámo-las a levantar-se. Estavam atordoados, mas inteiros. Nem sangue nem nada - não sei como. Nunca tinha visto uma coisa assim.

Assim que saímos do autocarro, o homem que tinha voado recuperou os sentidos e a energia e foi a correr prestar contas com o condutor. Seguiram-se gritos, seguiram-se murros, arranca-pára-arranca, não fiquei para ver. Tinha um apartamento à espera, e o respectivo dono com as chaves e o contrato e um carro todo tunning, tinha sono, tinha dois dias em Krasnoyarsk e agora só queria descansar e recuperar energias.

A caminho, ainda comprei uma espécie de amoras num mercado de rua. Estes mercados são sempre iguais, em toda a Rússia - e têm sempre um ar muito desenrascado: cada pessoa tem uma banca feita por dois ou três caixotes em cima uns dos outros e vendem uma mão cheia de verduras ou frutas.

Tem qualquer coisa de triste... mas também tem cores, e luz, e gente a conversar. A Rússia é um país estranho, sem dúvida. Por um lado, tão fácil de não gostar - mas por outro: há qualquer coisa. Há mesmo qualquer coisa.















1 comentário:

Clara Amorim disse...

Welcome back, Jorge!!!
(a pessoa começa a habituar-se e depois sente a falta...)

E agora sim, vamos lá conhecer algo "completely different"!

ENJOY YOUR STAY...!