20/02/2013

O VALOR DAS COISAS


Uma vez estava na Embaixada da Índia, a preencher formulários para pedir o visto, quando se gerou uma discussão entre a menina do balcão e uma senhora do lado de cá, porque o visto não estava pronto a horas, ou não podia ser feito com a rapidez que essa pessoa exigia - não me lembro bem do drama em concreto.

Mas lembro-me perfeitamente que a menina do balcão ouviu com calma as queixas da indignada senhora do lado de cá, e depois contra-argumentou com um exemplo, não me recordo ao certo qual, mas vamos admitir que o termo de comparação era um talho.

E sendo um talho, o discurso foi mais-ou-menos este:

"Minha senhora, é um erro acreditar que pedir um visto é como encomendar quinhentas gramas de carne. Estamos numa Embaixada, não estamos num talho - e o visto não é uma peça de carne. É um documento oficial, emitido por uma representação diplomática, que lhe dá autorização para entrar em território de uma nação soberana. O visto, minha senhora, nem sequer é um dado garantido. A senhora faz o pedido e o embaixador pode ou não concedê-lo. Por norma, a aprovação demora "xis" tempo. Mas excepcionalmente pode demorar mais - e até pode nem ser concedido, o visto."

A menina atrás do balcão tinha toda a razão. Habituámo-nos a dar como garantidas uma série de coisas, procedimentos e resultados - e ficamos muito indignados quando não corre tudo como pensamos que era suposto correr.

O que me remete para uma frase que li no outro dia no facebook:

"As pessoas hoje sabem o preço de tudo. Mas já ninguém sabe o valor de nada."

3 comentários:

Clara Amorim disse...

Verdade, verdadinha...!

kyta disse...

Os dados adquiridos já eram e a conjuntura é diferente.
Assusta-me este caminho para a anarquia, do querer tudo o que cada um deseja!
Excelente visão e exemplo!

CAP CRÉUS disse...

Depende.
Se os serviços indicam uma data para a entrega do visto ou do que quer se seja, terão de a cumprir. Se não cumpriram, tem de se perceber a razão.
Falta de gente? Incuria?
E no caso de não estar pronto a tempo, informar a pessoa, antes desta se dirigir aos serviços.