22/02/2013

PARECE FÁCIL

Voltando ao tema do último post: há processos a que estamos tão habituados, resultados que damos por garantidos - ao ponto de não lhes atribuirmos o devido valor.

Esta volta em que me vou lançar brevemente, por exemplo. Em 99 dias vou atravessar alguns países da América do Sul - sete a nove, pelas minhas contas. Não preciso de visto para nenhum deles. Ou seja: nem me dei ao trabalho de procurar seja o que for. Teoricamente, só tenho que chegar à fronteira, mostrar o passaporte, esperar pelo carimbo - e já está. Fácil.

Parece fácil.

O Bunty - meu companheiro de viagens indiano, que também vai fazer esta viagem comigo - já não pode dizer a mesma coisa. Enquanto eu andava às voltas com os grupos na Indochina, este meu amigo anda a tratar de vistos. Há dois meses.

Contactámos amigos em vários países para escreverem cartas-convite, preparámos calendários e rotas ao pormenor e ele tem andado de embaixada em embaixada, juntamente com um "agente" que ele acha muito profissional mas que eu acho um amador do pior - enfim. Documentos, certificados, extratos, cópias disto-e-daquilo - até a entrevistas foi. Ao todo, já produziu cerca de duzentos documentos, ao longo das últimas oito semanas.

O Bunty era para ter chegado ontem a Portugal. Mas ontem o passaporte ainda estava retido na Embaixada de Espanha, à espera de saber se lhe atribuíam o visto Schengen ou não. Já provou que vai voar de Barcelona para São Paulo, que tem vistos para não-sei-quantos países na América do Sul; já lhes mostrou toda a calendarização da viagem, as cartas-convite e até extratos bancários - dele e da mãe! - e mesmo assim não há maneira de se decidirem.

Era para ter voado ontem e não voou: perdeu dinheiro com as reservas e cancelamentos dos voos, e está neste momento sentado num quarto de hotel, de malas feitas porque não vive em Delhi... à espera que lhe digam alguma coisa - à espera de ter autorização para viajar. Vamos lá ver se ainda consegue chegar a Barcelona a tempo do voo para o Brasil.

Parecia tão fácil.

E mesmo a esta distância, é nestas alturas e com estes exemplos que me obrigo a um reposicionamento, que percebo o valor que têm pequenos nadas como "não ter de me chatear".

1 comentário:

Clara Amorim disse...

Bem, resta-me desejar muito boa sorte para o Bunty!!! Certamente que há-de chegar a tempo a Barcelona...! :)