22/01/2014

A FLORESTA ASSOMBRADA

Ainda relativamente às três horas de aventura sobre duas rodas:

Tínhamos saído de Bishnupur há pouco mais de meia hora e o sol aproximava-se vertiginosamente do horizonte. Estimei mais meia hora de luz - ou seja, dois terços do percurso iam ser feitos à noite. O que não foi, concerteza, o nosso melhor momento em termos de planeamento. Devíamos ter saído mais cedo, claramente. Conduzir à noite, na Índia, é ainda mais perigoso do que de dia. E, no entando, apesar de me ter passado isso pela cabeça, confesso que não era propriamente a ideia que dominava o meu estado de espírito.

Eu seguia radiante.

Sentia-me num clássico de Bollywood, a atravessar de mota a paisagem indiana, sentado no meio de dois amigos, uma mochila à frente do que vai à frente, uma mochila ao meu lado, outra atrás do que vai atrás. Os três a viver uma aventura - só faltava um deles começar a cantar e aparecerem as coreografias do costume, as cores e os ritmos, quem sabe uma indiana de sari, com os cabelos a dançar ao vento e a fazer olhinhos e boquinhas.

Ninguém cantou.

Mas o indiano-da-frente informou-me que estávamos prestes a atravessar a Floresta de Jaypur, uma enorme massa verde no mapa do West Bengal. Dito-e-feito: uns minutos depois passámos um controlo da polícia e um sinal com o nome da floresta em várias línguas. E foi então que o indiano-de-trás disse qualquer coisa do género:

"É melhor despacharmo-nos a atravessar a floresta, porque este lugar é perigoso à noite."

Não liguei muito, os indianos são cheios de superstições, mas não resisti a saber mais:

"Perigoso, como?"

"Há bandidos. Mandam parar quem passa e roubam tudo. Não viste a polícia à entrada?"

Respondi que sim e não disse mais nada. Estava à espera de alguma história mirabolante e levei com uma verdade crua - e cruel. A ser verdade, não me apetecia nada estar ali quando escurecesse."

O sol já se tinha posto há muito. A luz estava a diminuir rapidamente.

Pouco depois, como se eu tivesse perguntado mais qualquer coisa, o indiano-de-trás prosseguiu com os relatos:

"Há três dias um casal foi encontrado enforcado numa árvore."

Enforcados? Terei ouvido bem? Mas será que estamos a falar de mitos urbanos? Estas coisas acontecem mesmo? Tenho de ir procurar no google, pensei. Mas claro que nunca mais me lembrei.

E pouco depois:

"E também há animais selvagens."

"Tipo tigres?", perguntei a brincar. Já não há tigres selvagens na Índia, em teoria.

"Não, claro que não. Mas elefantes, javalis, cães selvagens e coelhos."

Coelhos. Medo.

Confesso que, dado o estado de espírito meio enebriado com a essência do momento, só me apetecia rir daquela conversa. Uma parte de mim desejava que escurecesse rapidamente, queria fazer aquela travessia à noite e sair sem problema, só para dizer que atravessei a Floresta de Jaypur à noite. A Floresta Assombrada.

Mas de repente, saído das árvores na berma da estrada, eis que vejo... um lobo. Não estou a brincar, não estou a exagerar. Um lobo. Eu próprio tive de olhar segunda vez para ter a certeza. Nenhum dos indianos o viu - mas eu vi. Um lobo.

Vamos lá a despachar, está bem? ;)

3 comentários:

Clara Amorim disse...

Bem, não sei o foi pior... se um lobo ou um coelho!!! ;)

Joana Fragoso disse...

que medo...... e ele não fez nada??? eles nao andam em matilha???? Sai daí rápido antes que os outros saiam de trás das árvores e comecem a correr atrás de voces.....

Lv disse...

Medo .....