07/01/2014

COUNTDOWN PARA O SHUTDOWN

Tic-tac, tic-tac.

Contam-se as horas e os minutos para a próxima segunda-feira, aqui em Bangkok. Apesar de uma aparente normalidade nas ruas, apercebo-me de alguma ansiedade nas conversas, nos rostos, na linguagem corporal. Ninguém sabe ao certo o que vai acontecer depois de os Amarelos "desligarem Bangkok".

Como disse ontem, parece-me que mais do que um simples protesto, o que está a acontecer na Tailândia é o resultado de um complexo e intenso jogo de gestão de intenções e expectativas, ambições e medos. Sonhos - e muitos fantasmas.

Hoje os jornais comentam a calma com que o Exército está a lidar com o assunto. São cada vez mais fortes, e mais sustentadas, as teorias que afirmam que se prepara um golpe de Estado. Aliás: a partir do momento que isto mete superstições... ora vejamos: num dos principais jornais, o "Bangkok Post", li que o dia 14 de Janeiro é auspicioso para um golpe de estado, de acordo com os astrólogos.

Não estou a brincar.

Alguns analistas dizem que esta ideia de um golpe de estado serve apenas para meter medo. O Governo, aliás, adoptou esta postura, acenando com a bandeira da criminalização, ameaçando prisão a quem "cause distúrbios", "viole os direitos individuais dos cidadãos livres" e "ponha a propriedade em risco". Insiste na ideia de que esta manifestação vai tornar-se violenta (o que é muito provável que seja verdade) e apela a que as pessoas se abstenham de participar.

Os Amarelos acusam o Governo de estar a incitar os Vermelhos a virem para a rua, com esta insistência na violência e na possibilidade de outras pessoas se virarem contra os manifestantes.

E o pior é que todos têm razão.

Há até quem defenda que os próprios Amarelos estão dispostos a sacrificar a calma, encenando um pequeno ataque aos manifestantes, se for preciso, para dar ao Exército um motivo sólido para intervir.

O que acaba por nem ser vantajoso para ninguém: porque se houver um golpe de estado, acaba-se a brincadeira para os dois lados.

Há até quem "jure a pés juntos" que a primeira-ministra, a irmã mais nova de Taksin, terá confidenciado a uma alta patente do Exército que até agradecia se houvesse um golpe de estado, para libertá-la deste peso enorme que carrega.

Assim se faz a política, aqui. Isto está ao rubro!

Tic-tac, tic-tac...

De todo o lado surgem apelos para que Sunthep desmobilize. Chegou a hora de dialogar, este é o momento de passar a novas estratégias, quem sabe entregar as "rédeas" a outro. Muita gente que esteve presente nas manifestações iniciais, protestando contra a amnistia proposta pelo Governo, está agora contra esta escalada sem precedentes. Agradecem a Sunthep por ter conseguido o que conseguiu - e pedem que se retire.

Falta menos de uma semana. Muito ainda há-de acontecer, até ao dia treze. Entretanto os ponteiros do relógio avançam devagar, oiço claramente o tic-tac da contagem decrescente, lenta e tensa, ou serão as batidas dos corações dos tailandeses, que esperam ansiosos para ver o que vai acontecer. A ver vamos.


1 comentário:

Clara Amorim disse...

Estou a ver que vamos ter notícias sempre fresquinhas...!