09/06/2015

NUM CASAMENTO HINDU

Num casamento hindu não há álcool e não há "o noivo beija a noiva", nem bouquet atirado ao ar a ver quem casa a seguir, nem leilões de adereços picantes, nem valsa nem bolo ;) e ao contrário da ideia que passa para fora, quase não há música. Enfim: haver há, mas é mais no momento que marca o arranque da cerimónia, em vez de ser na continuação, como em Portugal, pela noite fora.

Culturas diferentes, outros conceitos, simbologias e tradições.

Um casamento hindu demora normalmente de três a sete dias, conforme as famílias e a relação que têm com a própria religião, a zona da Índia onde vivem, extratos sociais, etc. Normalmente implicam uma série de pequenos rituais, alguns na presença dos convidados, a maioria no recato do lar e só testemunhados pela família.

Ontem fomos a um casamento hindu - o primeiro de quatro dias, pelo que percebi. O "programa" consistia, supostamente, numa espécie de parada em que os convidados do noivo seguiriam a pé pela estrada fora, de casa dele até ao lugar da cerimónia, a dançar ao som de filmes de Bollywood. Disse-me o Bunty, o nosso anfitrião em Bhubaneswar, que normalmente esta parada demora cerca de duas horas. Vai uma camioneta na frente com o gerador, depois outra com umas colunas gigantes a bombar batidas electrónicas num volume que rivaliza, em decibeis, monstros como o Rock in Rio - e a seguir nós, os convidados, dançando de braços no ar, acompanhados de foguetes a rebentar à volta, mais sprays de neve, confettis, serpentinas e eu-sei-lá.

Infelizmente (pela experiência em si) mas felizmente (pelo calor que fazia), este bocado que era suposto demorar duas horas... não ultrapassou vinte minutos. Em vez de arrancarmos de casa do noivo parámos os carros e as motas muito perto do hotel onde era a cerimónia. Depois de distribuirem umas bebidas e snacks, fez-se ouvir a música (provavelmente até ao pico dos Himalaias) e lá acompanhámos uns vinte ou trinta convidados nas batidas de Bollywood, seguindo devagar a carrinha com as colunas, pouco mais de cem metros até ao lugar onde a família da noiva nos esperava, mais uma centena de convidados.

Poucos minutos depois: ensopados em suor.

O noivo permaneceu todo este tempo dentro no carro enfeitado, no conforto do ar condicionado - casamentos modernos. Às vezes vem montado num cavalo, ou numa carroça com vacas, ou numa carruagem à principe encantado - e às vezes vem montado num elefante, e em vez de carrinhas com geradores e colunas de som, acompanha uma banda a sério. Não é suposto o noivo tocar no chão, daí vir sempre num veículo qualquer, seja moderno ou tradicional.

(E nós, enquanto dançávamos ou tirávamos fotografias, íamos bebendo rum com limão, disfarçado numa garrafa de água de litro e meio. Cortesia do Bunty e amigos. Afinal há álcool.)

Chegámos à porta do hotel e começaram os rituais. O noivo saiu do carro e teve de pisar uma pequena tábua de madeira de sândalo, enquanto pais e família o abençoavam. E como não podia pisar o chão foi estendido um sari branco à sua frente, para ele atravessar até à entrada do hotel. Supostamente o irmão da noiva deveria ir lá tentar empurrá-lo, ou qualquer coisa do género, mas deu-me a sensação que o noivo queria despachar um bocado esta parte da cerimónia.

E depois de entrar no hotel, percebi porquê.

Ar condicionado. Que maravilha.

Entrámos e foram distribuídas bebidas pelos convidados (não alcoolicas, pois claro). O noivo sentou-se numa pequena plataforma, no centro das atenções, e durante as quatro horas que se seguiram, multiplicaram-se os pequenos rituais e tradições, cumpridos por dois brahmins, um "contratado" pela família do noivo, outro pela família da noiva. Diz o Bunty que às vezes geram-se intensas discussões entre este brahmins, que são uma espécie de padres hindus, porque há sempre um que tem a mania que conhece melhor as tradições que o outro, e de repente o que um faz está errado para o outro, ou incompleto, ou com a ordem trocada. Beatices.

Muita conversa e ainda mais reza, cantorias e palmas, bagos de arroz atirados ao ar, mais pétalas de jasmim e cascas de côco, mais uma fogueirinha de madeira de sândalo e sininhos a tocar, búzzios a ser soprados, tambores e cornetas. Bindhis aplicados na testa, panos à volta do pescoço, tinta vermelha na sola dos pés. Confesso que não assisti às quatro horas de cerimónia, seria loucura da minha parte, sou curioso mas não tanto. E, de certa forma, alguns dos rituais já conhecia dos filmes de Bollywood. Mas de vez em quando lá ia espreitando, primeiro o noivo e depois a noiva, e finalmente os dois, amarrados um ao outro por uns cordéis, e por panos. Atira o arroz, as pétalas e incenso, Mãos nas mãos, olhos no olhos, já nem sei a ordem, já nem sei o quê. Mas foi giro. Bastante colorido. Muito, muito interessante.

Podia demorar-me em vários parágrafos em mais explicações, mas penso que já deu para ter uma ideia daquilo que vivemos neste dia. Enquanto comíamos, fomos aprendendo acerca desta e daquela tradição; e de cada vez que os ânimos pareciam mais exaltados lá íamos espreitar para ver o que se passava no palco principal. E que fique aqui registado, com toda a franqueza, que era o que a maior parte dos convidados fazia. Muito poucos assistiram à cerimónia por completo.

Já agora, por curiosidade porque no outro dia uns amigos estavam a falar disto mesmo (mas relativamente a casamentos portugueses): os smartphones, os tablets, as selfies e sei lá que mais modernices. Está tudo doido. Não há momento em que não haja alguém a registar qualquer coisa. E mal de mim falo, porque também eu - seja na qualidade de turista curioso como na de convidado entusiasmado -, também eu tirei fotos.

Ficam algumas:












2 comentários:

Clara Amorim disse...

Uaaaauuuuu!!! Que chiquérrimos! :)

Joana Fragoso disse...

Tanta cor! Brutal!
BUNTYYYYYY!!!!!