09/02/2016

A LENDA DO ZODÍACO CHINÊS

Feliz Ano Novo! Como sabem entrámos ontem no Ano do Macaco, segundo o Zodíaco Chinês.

Eu vim dar uma volta por Udon Thani, no nordeste da Tailândia - e hoje ao acordar lembrei-me que, no ano passado, estava em Bangkok por esta altura e tirei umas fotografias a uns baixos-relevos muito kitsch num templo da capital tailandesa, onde figuravam os doze animais que compõem o Zodíaco chinês. Tinha lido algures a lenda de como se decidiu a ordem do Zodíaco e, entusiasmado com o assunto, pensei para com os meus botões:

"P'ró ano partilho a lenda no blog e ilustro-a com estas fotos."

Confesso que nunca mais me lembrei do assunto. Mas agora que estou a fazer um esforço para reanimar o blog - que tem andado muito sossegado dos últimos tempos -, acendeu-se uma lâmpada em cima da minha cabeça, ao acordar. Fui à procura das tais fotos, pesquisei um pouco mais acerca da lenda...

...e, sendo assim, aqui vai:

Há muito, muito tempo, quando os animais ainda falavam e ainda não havia smartphones nem facebook, o Imperador de Jade fez saber que, para comemorar o seu aniversário, ia organizar uma corrida.

"Os doze primeiros animais a atravessar o rio vão dar o nome aos doze anos do Zodíaco.", anunciou.

O entusiasmo na floresta foi generalizado. Os animais começaram a ensaiar estratégias e métodos - e no dia da corrida juntaram-se todos na margem do rio, alinhados numa animada confusão, preparados para o "tiro de partida".

O gato e o rato, que eram vizinhos e amigos de longa data, estavam ambos preocupados pois não eram bons nadadores. Tinham estudado várias opções e decidiram abordar o boi, que além de excelente nadador, era muito ingénuo e de natureza muito afável. Pouco antes da corrida começar, o rato perguntou-lhe se queria ouvir uma música de incentivo, pois tinha muito boa voz. O boi aceitou, mas como não conseguiu ouvir qualquer som (o rato apenas fingiu cantar), então pediu-lhe que se aproximasse.

"Concerteza", disse o rato enquanto saltava para perto do seu ouvido, onde finalmente começou a cantar. O gato aproveitou a boleia do amigo e sorrateiramente também se pôs às costas do boi, que nem deu por nada - e quando a corrida começou, lá foi o boi a nadar com os outros dois "à boleia".

Tal como previsto, o boi provou ser o melhor nadador. Num instante ganhou uma confortável vantagem sobre os outros concorrentes - e mal começou a aproximar-se da outra margem, o rato aproveitou um momento de distracção e empurrou o gato para a água, deixando-o a lutar pela própria vida. O boi nem deu por nada, concentrado que estava na sua tarefa, e mal se acercou de terra firme viu o malandro saltar para a frente, ganhando a corrida.


O imperador anunciou imediatamente a vitória do pequeno roedor. O primeiro ano do Zodíaco ficou assim o Ano do Rato, seguido do Ano do Boi.

Pouco depois chegou o tigre, que vinha exausto.

"Era tão forte, a corrente. Tive de nadar com todas as minhas forças, e depois cheguei perto da margem e a lama era muito funda, estava sempre a enterrar-me... mas consegui arrastar-me até aqui."

Surpreendido pela força e determinação do felino, o Imperador declarou que o terceiro ano seria então o Ano do Tigre. E eis que de repente apareceu a correr o coelho, tão depressa que nem conseguiu parar na linha da meta.

"Onde vais com tanta pressa, ó coelho?"

"É dos nervos, desculpe lá, senhor Imperador. Eu na verdade nem tive de nadar. Comecei a saltar de pedra em pedra, até meio do rio, mas entusiasmei-me e a certa altura não conseguia nem avançar nem recuar. Comecei a desesperar, até que vi um tronco a boiar. Saltei para cima dele mas praticamente não andava, nem para um lado, nem para o outro. Acreditei que ia ficar ali parado para sempre, meto-me em cada uma... mas, que sorte!, uma rajada de vento fez com que o tronco começasse finalmente a descer o rio em direcção à outra margem, e mal me vi a uma distância segura saltei para a margem. E depois vim a correr para cá, tão entusiasmado que nem consegui parar a tempo."

"Muito bem, chegaste em quinto lugar, a seguir ao tigre."

Ainda o coelho não tinha recuperado o fôlego quando apareceu a voar o majestoso dragão. Com dignidade aterrou perto do Imperador, que parecia desiludido:

"Então e tu, ó dragão, que sabes voar... só chegas agora? Que aventuras nos contas, tu que dominas os céus, para justificar este atraso? Eu de ti esperava uma vitória."

"É verdade, sua alteza, eu se quisesse podia ter ganho. Mas quando vinha para cá vi uma aldeia a arder, com as pessoas desesperadas a correr de um lado para o outro, a tentar salvar o pouco que tinham. Não podia simplesmente ir embora sem nada fazer, por isso soprei algumas nuvens na direcção deles e fiz chover, para apagar o fogo. Depois vi um coelho num tronco, à deriva no rio, a pedir socorro, e sem ele dar por nada soprei por trás e empurrei o tronco para a margem. Só então é que me fiz ao caminho, sua alteza."

O Imperador estava impressionado com os gestos do dragão, mas pouco podia fazer para recompensá-lo. "Regras são regras", disse, "e tu chegaste em quinto lugar. a seguir ao Ano do Coelho, há-de celebrar-se o Ano do Dragão."

E então ouviu-se ao longe o relinchar do cavalo. Todos levantaram os olhos para assitir aquela poderosa imagem que é um cavalo selvagem a galope, mas quando parecia que o sexto lugar estava já assgurado, eis que uma serpente saltou das crinas do cavalo, onde vinha escondida desde o início da viagem, e o cavalo assustou-se e travou.

E assim a serpente ficou em sexto lugar, logo seguida do cavalo, que teve de se contentar com o sétimo ano do zodíaco.


Algum tempo depois chegou uma jangada à margem onde estavam já sete animais. Em cima dela vinham a cabra, o macaco e o galo, que por não saberem nadar tinham partilhado a viagem. O imperador ficou muito satisfeito com a capacidade dos animais trabalharem em conjunto e anunciou que o oitavo ano do zodíaco seria o Ano da Cabra, o nono o Ano do Macaco, e o décimo o Ano do Galo.



Em décimo primeiro lugar, outra surpresa: o cão.

"Como é que chegaste tão tarde, tu que és um dos melhores nadadores?"

"É que a erva junto ao rio estava tão fresca", respondeu sorridente o cão, "que não resisti a brincar um pouco. Depois tomei um banho na água límpida do rio, soube-me tão bem, acabei por perder a noção do tempo."

Sorridente, o Imperador não resistiu a desculpar o cão, e agora que faltava apenas um lugar no Zodíaco, estava cada vez mais curioso sobre quem o iria reclamar. O dia foi passando mas não aparecia ninguém, e estava já o Imperador a pensar se devia cancelar o resto do evento, quando ouviu um grunhido ao longe.

"Demoraste tanto tempo, porco. O que aconteceu?"

"Peço desculpa, Imperador. Confesso que deu-me uma fome, ainda antes de sair. Parei para comer junto à margem, soube-me tão bem e acabei por adormecer nas ervas. Quando acordei vi que estava atrasado... mas cá estou, não é verdade? Ainda venho a tempo?"

"Vens, sim. Em último lugar, mas ainda a tempo."

Assim ficou definida a ordem do Zodíaco Chinês. E assim se mede o Tempo, desde então.

Quanto ao gato, quando finalmente conseguiu salvar-se e nadar para terra, já era tarde demais para ter um ano com o seu nome. Traído por aquele que considerava seu amigo, jurou vingança e desde essa altura que gatos e ratos não podem estar juntos.

1 comentário:

Clara Amorim disse...

Ooooh, mais uma crónica lendária!
Super interessante!